segunda-feira, 23 de setembro de 2019

QUEM FOI CHICO MENDES?

Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, nasceu no seringal Porto Rico, em Xapuri (Acre), em 15 de dezembro de 1944. Foi um ambientalista, sindicalista, ativista político e seringueiro. Militante da reforma agrária e da conservação do meio ambiente, além de fundador de reservas extrativistas não predatórias, Chico Mendes foi assassinado por donos de terras opositores à sua luta.

Com pai seringueiro, ele acompanhou o trabalho dos seringueiros desde a infância, tornando-se profissional da área. Diferentemente de outros seringueiros, que eram analfabetos devido ao difícil acesso aos estudos na região, Mendes alfabetizou-se aos 16 anos, quando aprendeu a ler e escrever com Euclides Távora, refugiado político que morava próximo de sua casa.
Chico Mendes teve três filhos — Angela (da primeira união), Elenira Sandino. O ambientalista deixou viúva Ilzamar Mendes, com quem ficou casado de 1983 a 1988.
A política implantada pelo regime militar na Amazônia, na década de 1970, foi responsável por fomentar conflitos de terra, já que a substituição da borracha pela pecuária intensificou a especulação fundiária (investimento e valorização econômica de propriedades pertencentes aos fazendeiros, dificultando o acesso de pequenos produtores às terras), além de ter aumentado a devastação ambiental, a fim de gerar pastos para a criação de gado.
A exploração dos seringueiros e a vida na pobreza geraram, em Chico Mendes, a necessidade de buscar meios para melhorar o trabalho nos seringais. A extração da borracha era pautada por relações desiguais que geravam miséria. Em seu sistema de troca de mercadorias industriais pelo produto (látex), conhecido por aviamento, o endividamento dos seringueiros era algo constante. Trabalhadores que se rebelavam eram punidos por policiais, assim como os donos dos seringais estabeleciam um regimento para castigos físicos aos seus subordinados que protestassem.
Foi com a formação de sindicatos no Acre que Mendes entrou na luta por melhorias, fazendo parte da Diretoria do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasileia, em 1975.
Marca registrada do movimento sindicalista acreano da década de 1970, os embates nas derrubadas começaram no ano de 1976, sob liderança do presidente do sindicato de Brasileia, Wilson Pinheiro. Os embates consistiam na reunião de seringueiros e suas famílias nas áreas ameaçadas de desmatamento, momento em que os manifestantes colocavam-se em frente aos peões e suas máquinas para impedir o prosseguimento das derrubadas.
Wilson Pinheiro foi assassinado em 1980, dentro da sede do sindicato, como forma de represália ao movimento sindicalista. Em 1983, Chico Mendes foi eleito presidente da unidade sindical de Xapuri, sindicato criado por ele. Mendes também foi o fundador da União dos Povos das Florestas (grupo composto por indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores e populações ribeirinhas).
Chico Mendes foi eleito vereador em 1977 pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), mas sua ligação com a política fortaleceu-se com a criação do Partido dos Trabalhadores (PT), o qual ajudou a fundar. Além disso, Chico tentou eleger-se deputado e não obteve sucesso.

Chico Mendes e a natureza

Inicialmente, com foco na preservação das seringueiras, Chico Mendes acabou conhecendo mais sobre as matas e a respeito da importância da conservação ambiental para a sociedade. Com isso, o ativismo ambiental intensificou-se em suas lutas como sindicalista e ativista.
Ao longo da sua luta pela preservação do meio ambiente e melhores condições de trabalho para os seringueiros, Chico Mendes foi alvo de ameaças de morte por sua militância, principalmente ao ganhar notoriedade na política. O sindicalista chegou a contar com escolta policial para garantir sua segurança.
Chico Mendes foi morto em 22 de dezembro de 1988, no quintal de sua casa, enquanto saía para tomar banho em um banheiro externo. O ativista foi atingido por tiros de escopeta disparados por Darci Alves, o qual cumpria ordens de seu pai, Darly Alves, grileiro de terras da região.
A morte de Chico Mendes chamou a atenção da opinião pública, o que pressionou as autoridades a investigarem mais profundamente o caso. Em 1990, Darci e Darly Alves foram presos graças ao depoimento de Genésio Ferreira da Silva, na época com 13 anos, adolescente que trabalhava na fazenda dos autores do assassinato e presenciou a preparação do crime. Em um julgamento inédito para a justiça na zona rural, os assassinos foram condenados a 19 anos de prisão.
Em 2018, o documentário Genésio - um pássaro sem rumo: a única testemunha do assassinato de Chico Mendes, mostrou que Genésio recebeu ameaças de morte dos seus ex-patrões e que o depoimento sobre a morte de Chico Mendes transformou sua vida.
A morte de Chico Mendes evidenciou a urgência de ações conservacionistas para a preservação da Amazônia e o fim dos conflitos por terra. Com base na pressão internacional, fundou-se a Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex), em 1990, exemplo seguido por outras. Referência para o mundo, a Resex alcança as cidades de Assis Brasil, Brasileia, Capixaba, Epitaciolândia, Sena Madureira, Xapuri e Rio Branco; tem cerca de 970 mil quilômetros de floresta e quase 1 milhão de hectares.
As reservas extrativistas sofrem, ainda, com a devastação de algumas partes para a criação de gado, atividade considerada mais rentável em relação ao cultivo de outros produtos naturais. No entanto, locais como a Resex permitem que a maior porcentagem da floresta mantenha-se a salvo, assim como permitem a proteção aos produtores locais e aos povos indígenas.
Chico Mendes foi referência na luta pelo meio ambiente no mundo todo e, por isso, foi notado por diversos jornais internacionais. Jornalistas acompanharam a rotina dos seringais de Xapuri para conhecer mais sobre o sindicalista e sua militância.
Entre 1987 e 1988, Chico Mendes foi premiado por seu ativismo, recebendo o Global 500 da Organização das Nações Unidas (ONU), na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, nos Estados Unidos.
Após a sua morte, prêmios, parques, institutos e memoriais foram criados para divulgar seu legado e homenagear o líder seringueiro.

- Parque Chico Mendes

Fundado em 1989, o Parque Natural Municipal Chico Mendes, no Rio de Janeiro, é uma reserva ambiental criada para preservar a área da Lagoinha das Tachas e arredores, no Recreio dos Bandeirantes.
O Parque Chico Mendes preserva alagados restingas (com fauna e flora originais), além de abrigar espécies ameaçadas de extinção, como é o caso do jacaré-de-papo-amarelo.

- Memorial Chico Mendes

Criado, em 1996, para preservar e divulgar a história de Chico Mendes, além de apoiar comunidades agroextrativistas, o Memorial Chico Mendes (MCM) é uma associação sem fins lucrativos, com sede em Manaus, fundada pelo Conselho Nacional dos Seringueiros.
O MCM tem como princípios: o apoio ao fortalecimento e à organização dos povos da floresta; a execução de projetos locais; e a influência sobre as políticas públicas regionais e nacionais.
- Instituto Chico Mendes (ICMBio)
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é uma autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e faz parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama).
O ICMBio foi criado em 2007, pela Lei 11.516, responsável por executar ações do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. O instituto é voltado para programas de pesquisa, proteção e preservação da biodiversidade, além de ter o poder de polícia ambiental na proteção das Unidades de Conservação Federais (UCs).
- Prêmio Chico Mendes
Criado em 2002, o Prêmio Chico Mendes é uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente que tem como objetivo a valorização e o incentivo para iniciativas de proteção do meio ambiente promoção do desenvolvimento sustentável da região amazônica.

Chico Mendes no cinema

O ativismo de Chico Mendes e a sua importância para a sociedade foram alvos de curiosidade da imprensa e do cinema, resultando em diversos filmes, programas especiais e documentários. Uma das obras mais conhecidas, com alcance internacional, foi Chico Mendes: eu quero viver, de 1987, produzida pelo cineasta Adrian Cowellapós ter acompanhado o cotidiano do sindicalista em Xapuri.
Outros documentários sobre Chico Mendes são:
  • A história de Chico Mendes;
  • Chico Mendes - o preço da floresta (2010);
  • Chico Mendes - a voz da Amazônia (1989);
  • The burning season: the Chico Mendes story (1994);
  • Genésio - um pássaro sem rumo: a única testemunha do assassinato de Chico Mendes.

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