segunda-feira, 6 de novembro de 2023

ANITA MALFATTI

 Anita Malfatti foi uma artista plástica brasileira, sendo que sua obra expressionista, apresentada em São Paulo na Exposição de Pintura Moderna foi um marco para a renovação das artes plásticas no Brasil. ressalta-se que uma crítica do escritor Monteiro Lobato, sobre a arte expressionista de Anita, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, intitulada "Paranoia ou mistificação?" serviu de estopim para o Movimento Modernista no Brasil.



Anita Catarina Malfatti nasceu em São Paulo, no dia 2 de dezembro de 1889. Filha de Samuel Malfatti, engenheiro italiano e de Betty Krug, descendente de alemães e de nacionalidade norte-americana, nasceu com uma atrofia na mão direita e treinada para usar a mão esquerda, recebia os cuidados de uma governanta.

Anita Malfatti aprendeu as primeiras letras no colégio São José, estudou na Escola Americana e em 1897 ingressou no Colégio Mackenzie.

Com 13 anos, Anita já sofria com a ansiedade precoce de saber que rumo tomar na vida. Então teve uma ideia radical: imaginou que passar por uma experiência de forte emoção, uma aventura perigosa, poderia lhe dar algum tipo de iluminação e a resposta a suas incertezas.

Anita deitou-se no vão entre os trilhos de uma linha do trem, perto de sua casa, no bairro da Barra Funda e aguardou o trem passar. “Amarrei fortemente as minhas tranças e deitei-me debaixo dos dormentes e esperei o trem passar por cima de mim”, revelou em um depoimento de 1939, já artista consagrada. 

“Foi uma coisa horrível, indescritível. O barulho ensurdecedor, a deslocação de ar e a temperatura asfixiante deram-me uma impressão de delírio e de loucura. Eu via cores, cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria ficar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar à pintura”.

Anita aprendeu as primeiras técnicas da pintura com sua mãe, que após a morte do marido dava aulas de pintura e línguas para sustentar a família. Com 19 anos formou-se professora.

Em 1910, com a ajuda de um tio e do padrinho, foi estudar na Alemanha, onde frequentou o ateliê de Fritz Burger e em seguida matriculou-se na Academia Real de Belas Artes em Berlim, onde estudou pintura expressionista - cujo objetivo era expressar o emocional, distorcer formas e usar cores pouco reais.

Em 1914, Anita Malfatti estava de volta ao Brasil e realizou uma exposição na Casa Mappim, quando apresentou os estudos da pintura expressionista feitos no ateliê de Lovis Corinth, em Berlim.

Em 1915 foi para Nova Iorque, onde estudou na Arts Students League e na Independent Scool of Art, sob a orientação de Homer Boss que dominava o expressionismo - movimento pouco conhecido na época, principalmente fora da Europa, quando teve a liberdade de pintar livremente e sem limitações estéticas. São dessa época as obras:

anita malfatti
                                          A Boba (1915-16)
anita malfatti
                                         O japonês (1915) 
anita malfatti
                                                  O Farol (1915)

Em 1917, Anita Malfatti retornou para São Paulo e, no dia 20 de dezembro por insistência dos amigos, entre eles o pintor Di Cavalcanti, a pintora faz uma exposição de suas obras apresentando 53 trabalhos entre pinturas, aquarelas e gravuras.

A pintura de Anita trazia cores berrantes, pinceladas que saltavam da tela e formas que desfiguravam a representação humana, muito longe das pinturas acadêmicas que reinavam aqui no país, causando grande repercussão na imprensa.

Uma semana após a abertura da mostra, um artigo do escritor Monteiro Lobato, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, intitulado “Paranoia ou Mistificação?”, condenou, em tons histéricos aqueles traços exóticos. Para ele, Anita havia se deixado contaminar pelas “extravagâncias de Picasso e companhia”.

Para um crítico europeu, a arte de Anita Malfatti era uma arte emergente espelhada no cubismo e expressionismo - “era Arte Moderna”. A crítica serviu de estopim para o “Movimento Modernista no Brasil”. Algumas obras de Anita se tornaram clássicos da Pintura Moderna, entre elas:

anita malfatti
                                        A Estudante Russa (1915)
anita malffati
                                                      A Mulher de Cabelos Verdes (1917)
anita malfatti
                                                         O Homem Amarelo (1917)

As telas expressionistas expostas por Anita causaram impacto para os padrões da arte da época. Nas obras, foram incorporados procedimentos básicos da Arte Moderna, como a relação dinâmica e tensa entre a figura e o fundo da tela, a pincelada livre que valoriza os detalhes, os tons fortes, uma técnica de luz que foge do claro e escuro tradicional e apresenta uma liberdade de composição.

A Semana de Arte Moderna

Depois de um ano sem produzir nenhuma obra, Anita voltou a ter aulas, período em que estudou as técnicas da natureza-morta. Nessa época, conhece a pintora Tarsila do Amaral e, foi só o começo de uma grande amizade.

Incentivada pelos amigos, Anita participou da Semana de Arte Moderna de 1922 e, integrou, ao lado de Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti De Picchia, o Grupo dos Cinco.

Durante toda a “Semana de Arte Moderna” ou Semana de 22, que apesar do nome, só teve apresentações em três dias, 13, 15 e 17 de fevereiro, realizadas no saguão do Teatro Municipal de São Paulo, foram expostas obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret, entre outros artistas.

Reconhecimento Internacional

Entre os anos de 1923 e 1928, Anita residiu em Paris. Realizou exposições individuais em Berlim, Paris e Nova York. Em 1928 retornou para São Paulo e passou a lecionar desenho na Universidade Mackenzie, onde permaneceu até 1933. São desse período as obras:

anita malfatti
                                       A Japonesa (1924) 
anita malfatti
                                                              Porto de Mônaco (1925)
anita malfatti
                                                   Chanson de Montmartre (1926)
anita malfatti
                                                         Mulher do Pará (1927)

Em 1942, Anita Malfatti foi nomeada presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Há quadros de sua autoria nos principais museus brasileiros. O quadro "A Estudante Russa" está no Museu de Arte Moderna de São Paulo, "A Boba" está no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e "Uma Rua" no Museu Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro.

Anita Malfatti faleceu em São Paulo, no dia 06 de novembro de 1964.

Obras de Anita Malfatti

  • O Burrinho Correndo (1909)
  • O Barco (1915)
  • A Estudante Russa (1915)
  • O Farol (1915)
  • Uma Estudante (1916)
  • O Japonês (1916)
  • O Homem de Sete Cores (1916)
  • A Mulher de Cabelo Verde (1916)
  • A Boba (1916)
  • O Homem Amarelo (1916)
  • Tropical (1917)
  • A Onda (1917)
  • A Chinesa (1922)
  • Mario de Andrade I (1922)
  • As Margaridas de Mário (1922)
  • Paisagem dos Pirineus (1924)
  • As Duas Igrejas (Itanhaém, 1940)
  • Samba (1945)

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