sábado, 27 de julho de 2019

A INTERTEXTUALIDADE

O termo intertextualidade origina-se do prefixo latino, inter, que expressa a ideia de relação, o que significa que o conceito estudado refere-se às relações entre os textos. Neste sentido, todo texto, em maior ou menor grau, pode ser compreendido como um intertexto, considerando-se as relações dialógicas que ele mantém com outros textos. 



Em outras palavras, a intertextualidade é a relação de um texto com outro texto, uma vez que se acredita que há sempre um texto base sobre determinado assunto, que é usado como fonte de informação ou inspiração para escrever outros textos. Por exemplo, a música, Bom Conselho, escrita por Chico Buarque, fundamentou-se em vários ditados populares.

Bom conselho
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade.
Chico Buarque

Chico Buarque, ao invés de copiar literalmente os ditados populares, optou por parodiá-los, invertendo seus significados e atribuindo-lhes novos sentidos, o que deu ao texto humor. Esse tipo de estratégia textual é muito comum na literatura brasileira. Atente para as poesias escritas por Gonçalves Dias (Romantismo) e Oswald de Andrade (Modernismo).

Canção do Exílio 
(Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores...
Canto de regresso à pátria
(Oswald de Andrade)
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.

O poema de Gonçalves Dias escrito no século XIX serviu como texto-fonte para o autor modernista, que construiu uma paródia sobre a realidade de São Paulo, nos anos de 1920.
A intertextualidade pode acontecer com textos de variados gêneros, inclusive os textos publicitários. Quanto mais texto-fonte o leitor conhecer, mais fácil será a identificação deste conceito. Portanto, a interpretação de texto não depende apenas do conhecimento da língua portuguesa, mas também das relações intertextuais que influenciam a forma de compreender e produzir textos.

Silvia Laura Abrahão

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