Apesar de ser um fenômeno recorrente nesta época do ano, a ferocidade do fogo assusta. Os incêndios são resultado de uma conjuntura de fatores, mas o efeito estufa estaria entre os
culpados, dizem especialistas. No Brasil, o fator humano e as demandas do mercado são graves ameaças à natureza.
“Hoje o planeta em geral está 1°C mais quente do que há cem
anos. Isso é mudança climática”, explica Carlos Nobre, pesquisador-colaborador do Instituto de Estudos Avançados
da USP, e senior fellow do World Resources Institute – Brasil.
“Isso é causado pela emissão de gases de efeito estufa que
nossa sociedade moderna colocou na atmosfera, que por sua
vez não conseguiu se livrar do excesso de poluentes”, continua.
Nobre explica que esse 1°C a mais contribui para deixar a atmosfera mais quente e a biomassa mais inflamável.
“Quando a temperatura fica mais alta, ela faz com que o solo
perca água mais rapidamente. A evaporação do solo aumenta muito. O solo secando, a energia solar passa a ser usada mais
para aquecer o ar do que evaporação”, explica. “Ou seja, esse
um grau a mais, junto com o solo mais seco e aliado a um
período sem chuvas, são fatores que aumentam muito a flamabilidade da biomassa”, diz Nobre.
O meteorologista Celso Oliveira, do instituto Somar, de São
Paulo, lembra que este período de muito calor entre julho e
agosto no hemisfério norte é chamado de “Calígula”, uma homenagem ao tirano e cruel imperador romano. Além das mudanças climáticas, fala-se também de uma mudança na temperatura do oceano Atlântico, intensificando um centro
de alta pressão, um sistema que inibe a formação de nuvens
de chuva, fazendo com que os dias sejam mais ensolarados
e as temperaturas, mais elevadas”, diz Oliveira.
No Brasil, a ação humana, mais do que mudanças climáticas
ou fenômenos naturais, influencia queimadas e incêndios
na mata. “A floresta Amazônica e a Mata Atlântica são
biomas que evoluíram durante dezenas de milhões de anos
com pouca influência do fogo”, explica Carlos Nobre.
“Em uma parte densa da floresta, com dosséis altos e alta densidade de folhas, no máximo 4% dos raios solares
chegam à superfície. No entanto, hoje, o uso do fogo na
agricultura e a retirada de árvores torna o sistema mais
inflamável e vulnerável”, alerta o especialista.
Celso Oliveira lembra também outro fator ligado às
queimadas no Brasil: o mercado. “Se o preço das
commodities está alto, a pressão sobre a fronteira agrícola
faz aumentar as queimadas a fim de impulsionar as
plantações, principalmente de soja".
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