segunda-feira, 8 de julho de 2019

O CONTO

conto é um dos gêneros narrativos mais comuns na tradição literária brasileira. Grandes autores, como Álvares de Azevedo, Machado de Assis ou Mário de Andrade, são reconhecidamente excelentes contistas. Em virtude da importância do gênero, muitas faculdades e universidades solicitam aos candidatos, em seus vestibulares, que produzam contos. Existem, inclusive, alguns tipos ou subcategorias desse gênero, entre os quais estão: o conto de fadas ou o conto fantástico.

Estrutura

O gênero literário conto é estruturado como uma narrativa curta que envolve apenas um conflito. Nessa perspectiva, o momento de maior tensão do gênero é chamado de clímax. Além disso, embora não seja uma regra, é comum que o conto apresente:
  • poucos personagens;
  • espaço ou cenário limitado;
  • recorte temporal reduzido.
Uma subcategoria de conto, popularizada no século XX, é o microconto. Nele, em uma ou duas frases, toda a estrutura do gênero aparece. 
Elementos
A estrutura do conto é baseada nos elementos fundamentais da tipologia narrativa. Nesse sentido, o gênero textual em questão deve ter:
  • Personagens: Esse elemento corresponde aos seres que executam e sofrem ações durante o enredo das narrativas. Neste sentido, podem ser personagens tanto seres humanos quanto outros seres viventes, tais quais animais, plantas ou até objetos humanizados. Veja, a seguir, a apresentação da personagem Ana, do conto “O amor”, de Clarice Lispector:

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.
In: LISPECTOR, C. Laços de família.
Nota-se que o leitor conhece a personagem pelas ações de Ana — “Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas” —, bem como pela descrição de pessoas próximas a ela, como os filhos ou o marido. Além disso, sobre o cenário descrito: a cozinha, em específico, e o apartamento, em geral, são também elementos que fazem o leitor pensar sobre quem seria essa personagem.
  • Narrador: é aquele que conta a história ao leitor, possui tipos, conforme se explica a seguir.

  • Narrador em 1ª pessoa: também conhecido como narrador personagem, é aquele que participa do enredo que narra. Os verbos utilizados são flexionados na 1ª pessoa do discurso;
  • Narrador observador: não participa da história, é alguém externo a ela, desconhecido das personagens e irrelevante ao conflito. Os verbos usados são flexionados na 3ª pessoa do discurso. É importante dizer: esse narrador conta apenas o que vê, desconhecendo o futuro ou os pensamentos das personagens.
  • Narrador onisciente: também não participa da história. No entanto, diferentemente do observador, é um tipo que conhece o passado, o futuro e os pensamentos das personagens.
  • Tempo: Esse elemento em uma narrativa pode ser entendido de duas formas. De um lado, fala-se de tempo como a época em que a história ocorre. Por exemplo, no conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato, o enredo acontece pouco depois da libertação dos escravos, em 13 de maio de 1888:

A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! 'Qualquer coisinha': uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse: 'Como é ruim, a sinhá!'.
O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis.
In: LOBATO, M. Negrinha.
Além dessa perspectiva, há também nesse elemento a ideia de tempo de duração da narrativa. Seguindo o exemplo anterior, o enredo de “Negrinha” ocorre durante pouco mais de um mês:
Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro do seu doloroso inferno, envenenara-a.
Brincara ao sol, no jardim. Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer mamã, a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-se de alma.
Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos... E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça — abraçada, rodopiada.
In: LOBATO, M. Negrinha.
  • Espaço: O espaço de um conto é, em linhas gerais, o cenário no qual as personagens executam e sofrem as ações que compõem o enredo. Relembre o cenário de “O amor”, da obra Laços de família, de Lispector: “A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando”.

  • Enredo: É definido como a sequência das ações que compõe a história. É o enredo que traz movimento para o gênero narrativo.

  • Conflito: Pode ser definido como a situação-problema vivenciada pelas personagens em uma narrativa. No caso do conto, por ser um gênero curto, o conflito costuma ser único.

Tipos
Devido à diversidade de formas com as quais um conto pode ser construído, é comum encontrarmos subdivisões desse tipo de texto. Nesse sentido, veja duas subcategorias do gênero, a seguir.
  • Conto fantástico: Pode ser definido como aquele em que o enredo apresenta situações inexplicáveis, segundo as leis que regem a realidade. Nesse tipo de narrativa, o acontecimento sobrenatural está sempre presente. Por exemplo, no conto “O pirotécnico Zacarias”, de Murilo Rubião, o narrador é atropelado e morre. Em seguida, ouve aqueles que o mataram discutir o destino do seu corpo e, então, protesta:

Mas aquele seria um dos poucos desfechos que não me interessavam. Ficar jogado em um buraco, no meio de pedras e ervas, tornava-se para mim uma ideia insuportável. E ainda: o meu corpo poderia, ao rolar pelo barranco abaixo, ficar escondido entre vegetação, terra e pedregulhos. Se tal acontecesse, jamais seria descoberto no seu improvisado túmulo e o meu nome não ocuparia as manchetes dos jornais.
Não, eles não podiam roubar-me nem que fosse um pequeno necrológio no principal matutino da cidade. Precisava agir rápido e decidido:
— Alto lá! Também quero ser ouvido.
In: RUBIÃO, M. Obra completa.
Sabe-se que é impossível alguém morrer e, em seguida, protestar sobre qualquer coisa. Por isso, é possível considerar essa narrativa como um conto fantástico. 

Conto de fadas

Os contos de fadas, velhos conhecidos da infância, são gêneros medievais que ainda fazem muito sucesso. Por definição, esse tipo de narrativa tem personagens folclóricos, tais como: fadas, gnomos, animais personificados etc.. Além disso, é comum que esse tipo de conto apresente um fundo moral claro e, por isso, tem certo caráter didático

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