sexta-feira, 10 de setembro de 2021

FERREIRA GULLAR

 Ferreira Gullar, pseudônimo de José de Ribamar Ferreira, foi um poeta, crítico de arte e ensaísta brasileiro. Abriu caminho para a "Poesia Concreta" com o livro "A Luta Corporal". Organizou e liderou o movimento literário "Neoconcreto". Recebeu o Prêmio Camões, em 2010. Em 2014, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.



Ferreira Gullar nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 10 de setembro de 1930. Iniciou seus estudos em sua cidade natal. Com 13 anos passou a se dedicar à poesia. Ingressou na Escola Técnica São Luís, onde queria aprender uma profissão.

Com 18 anos, Ferreira Gullar desistiu da Escola Técnica e começou a assinar “Ferreira Gullar” e publicou seu primeiro livro de poesias, intitulado "Um Pouco Acima do Chão". Em 1951 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde atuou como revisor de textos da revista O Cruzeiro.

Poesia Concreta

Ferreira Gullar iniciou sua obra sob os princípios da poesia concreta. Em 1954 escreveu a "A Luta Corporal", livro que prenunciava a Poesia Concreta.

Em 1956, depois de participar da primeira exposição de Poesia Concreta, realizada em São Paulo, organizou e liderou o grupo "Neoconcreto", no qual participaram Lígia Clark e Hélio Oiticica.

No começo dos anos 60, Ferreira Gullar já havia rompido com as vanguardas, numa luta para construir uma expressão própria, entrando em contato com os problemas sociais que assolavam o país. Passou a fazer uma poesia de denúncia social. É de 1968, “Por Você, Por Mim”, longo poema sobre o Vietnã.

Ferreira Gullar presidia o Centro Popular de Cultura, quando em 1964, veio o golpe militar. Filiado ao PC e um dos fundadores do grupo Opinião, após a edição do Ato Institucional n.º 5, em 1969, foi preso junto com intelectuais e músicos, como Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Em 1971, mudou-se para Paris. Morou em seguida no Chile, Peru e Argentina.

Exilado por cinco anos, publicou duas obras muito importantes: “Dentro da Noite Veloz” (1975) e "Poema Sujo" (1976) obras que representam a solução dos problemas vividos por todos os intelectuais do período, que viram seus ideais populistas serem sufocados pela revolução de 1964. Em 1977 é absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e retorna ao Brasil.

Agosto de 1964 ( de "Dentro da Noite Veloz")

Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
              mercados, butiques,
viajo
              num ônibus Estrada de Ferro-Leblom
Volto do trabalho, a noite em meio,
              fatigado de mentira.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógios de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
              que a vida
              eu a compro a vista aos donos do mundo. (...)

Leilão (de "Poema Sujo")

-Quando dão? Quando dão?
-Quem dá mais? grita mais o leiloeiro.
Essa bengala de castão de ouro!
(Onde ainda sem leva-la o dono antigo?)
Essa arca colonial!
(Falam dedicatórias de retratos,
falam cartas de amor, a voz trancada.)
-Essa mobília de jacarandá! (...)

Teatro e Novela

Para o teatro, Ferreira Gullar escreveu, em 1966, em parceria com Oduvaldo Vianna Filho, a peça "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come". Em parceria com Arnaldo Costa e A.C. Fontoura, escreveu, em 1967, "A Saída? Onde Fica a Saída?". Junto com Dias Gomes, em 1968, escreveu "Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória". Para a televisão, colaborou para as novelas Araponga em 1990, Irmãos Coragem, em 1995 e Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1998.

Prêmios

Ferreira Gullar ganhou diversos prêmios de literatura, entre eles, o Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Ficção de 2007, com "Resmungos". Também teve reconhecimento com o Prêmio Camões, em 2010. No mesmo ano, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, da UFRJ. Em 2011, recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia.

No dia 9 de outubro de 2014, Ferreira Gullar foi eleito para a cadeira n.º 37 da Academia Brasileira de Letras. Em dezembro desse mesmo ano realizou a exposição "A Revelação do Avesso" onde apresentou 30 quadros feitos a partir de colagens com papel colorido, que foram produzidas como passatempo. A mostra foi acompanhada por um livro com fotos da coleção completa e também com poemas do autor.

Ferreira Gullar faleceu no Rio de Janeiro, no dia 4 de dezembro de 2016.

Obras de Ferreira Gullar

  • Um Pouco Acima do Chão, poesia, 1949
  • A Luta Corporal, poesia, 1954
  • Teoria do Não-Objeto, ensaio, 1959
  • João Boa-Morte, Cabra Marcado pra Morrer, poesia, 1962
  • Quem Matou Aparecida?, poesia, 1962
  • Cultura Posta em Questão, ensaio, 1964
  • Se Corre o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, teatro, 1966
  • A Saída? Onde Fica a Saída?, teatro, 1967
  • Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória, teatro, 1968
  • Por Você, Por Mim, poesia, 1968
  • Vanguarda e Subdesenvolvimento, ensaio, 1969
  • Dentro da Noite Veloz, poesia, 1975
  • A Luta Corporal e Novos Poemas, poesia, 1976
  • Poema Sujo, poesia, 1976
  • Antologia Poética, poesia, 1977
  • Augusto dos Anjos ou Vida e Morte Nordestina, ensaio, 1977
  • A Vertigem do Dia, poesia, 1980
  • Sobre Arte, ensaio, 1983
  • Barulhos, poesia, 1987
  • Poemas Escolhidos, 1989
  • Indagação de Hoje, ensaio, 1989
  • O Formigueiro, poesia, 1991
  • Argumentação Contra a Morte da Arte, ensaio, 1993
  • Rabo de Foguete-Os Anos no Exílio, memórias, 1998
  • Muitas Vozes, poesia, 1999
  • Rembrandt, ensaio, 2002
  • Relâmpagos, ensaio, 2003
  • Um Gato Chamado Gatinho, poesia, 2005
  • Resmungos, poesia, 2007
  • Em Alguma Parte Alguma, poesia, 2010
  • Autobiografia Poética e Outros Textos, 2016

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