O episódio conhecido como “Crise dos mísseis” ocorreu entre os dias 16 a 28 de outubro de 1962. Tratou-se do maior momento de tensão entre as duas grandes superpotências políticas e militares da época, Estados Unidos e União Soviética (URSS); tensão esta gerada pela instalação de mísseis balísticos nucleares, por parte da URSS, em solo cubano (portanto, próximo do território estadunidense). Cada míssil tinha o alcance de 1.600 quilômetros de distância, e poderia chegar à capital americana, Washington, em cerca de 13 minutos.
O PAPEL DE CUBA
A Revolução Cubana aconteceu em 1959, quando o grupo de guerrilheiros liderado pelos irmãos Fidel e Raúl Castro, por Ernesto “Che” Guevara e outros, tomaram o poder na ilha, forçando a fuga do presidente Fulgêncio Batista. Entretanto, a revolução não possuía um viés diretamente associado ao comunismo. Isso só ocorreu em 1961, quando Fidel Castro disse, explicitamente, ser um “marxista-leninista”, e estreitou vínculos com o bloco soviético, aderindo ao comunismo internacional.
Neste mesmo ano de 1961, entre os dias 17 e 19 de abril, houve a chamada Batalha de Praia Girón, desencadeada pela invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, por parte de cubanos exilados, apoiados pelos Estados Unidos (EUA). A tentativa contrarrevolucionária não deu certo, mas, associada à declaração de adesão ao bloco soviético de Castro, gerou o início da tensão que se estenderia até o ano seguinte. Essa era a época em que a Guerra Fria chegava ao seu auge, na qual imperavam a “Corrida Armamentista” e a “Corrida Espacial”, com as lideranças de cada bloco, o americano e o soviético, sendo exercidas por John Kennedy e Nikita Krutchev, respectivamente.
O sábado negro
A Crise dos mísseis teve início de fato quando aviões americanos, do modelo U-2, em sobrevoo de espionagem sobre o território cubano, identificaram, no dia 14 de outubro de 1962, diversas bases para mísseis balísticos nucleares sendo construídas. Quando a inteligência do exército dos EUA averiguou as imagens das câmaras do U-2, percebeu que se tratavam de mísseis soviéticos de dois tipos, o R-12 Dvina (também conhecido como SS-4 Sandal) e o R-14 Chusovaya, ambos de médio alcance e com grande poder de destruição. Kennedy e seus comandantes militares optaram por não fazer nenhuma ação ofensiva contra Cuba, e trataram de manter a ilha sob “quarentena”, isto é, estabelecer bloqueios.
O objetivo de Cuba, ao aceitar a instalação dos mísseis soviéticos, era forçar os EUA a debelar qualquer nova tentativa de invasão ou de associação a cubanos contrarrevolucionários. Ao longo dos dias que seguiram, autoridades soviéticas e americanas tentaram chegar a uma solução, já que a URSS também se sentia pressionada pela presença de mísseis balísticos americanos na Turquia. Em 27 de outubro, a tensão chegou ao ápice e este dia chegou a ser denominado de “sábado negro”: quando um avão U-2 foi abatido pelo Exército cubano, provocando a morte do piloto americano. O mundo ficou apreensivo, já que a iminência de uma guerra nuclear nunca havia estado tão próxima.
Resolução da tensão
Em 28 de outubro, a tensão chegou ao fim após a seguinte negociação: a URSS promoveria a retirada dos mísseis de Cuba com a condição de:
1) os EUA não tentarem invadir a ilha;
2) os EUA retirarem os mísseis da Turquia.
Ao mesmo tempo, outros países, como o Brasil, participavam secretamente da negociação da crise. Um dos envolvidos foi o então embaixador brasileiro em Washington, que, reportando ao governo de João Goulart, Roberto Campos.
O acordo mútuo finalmente foi cumprido, com desdobramentos diplomáticos que se acumularam pelos anos seguinte. Mas, o pesadelo de uma guerra nuclear nunca foi afastado.
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