terça-feira, 20 de agosto de 2019

PRIMAVERA DE PRAGA

Após a Segunda Guerra Mundial, o estabelecimento da ordem bipolar pretendia colocar o mundo sob os ditames de dois projetos hegemônicos concorrentes entre si. No entanto, o desenvolvimento desses regimes ao redor do mundo acabou mostrando que as ações ordenadoras capitalistas e socialistas não conseguiriam suplantar as demandas das futuras gerações. Um exemplo do fracasso dessas ideologias totalizantes aconteceu em 1968, quando a Tchecoslováquia apontou para uma nova direção.

Apesar de estar alinhado às diretrizes do bloco socialista, os dirigentes tchecos começariam a empreender reformas que iriam contra a rigidez recomendada pelos soviéticos. Um novo grupo de intelectuais comunistas, representados pelo novo Secretário-geral do Partido Comunista Tcheco, Alexander Dubcek, pretendia dar uma “face mais humana” para o socialismo. Com isso, o novo governante empreendeu uma série de reformas que ampliavam os direitos civis e as liberdades individuais.
Entre outros pontos, a polêmica reforma de Dubeck, prometia restabelecer a liberdade de imprensa, a liberdade de culto religioso e a formação de novos partidos políticos. Tais modificações causaram verdadeiros arrepios aos líderes comunistas soviéticos de orientação ortodoxa. Dessa forma, buscando reverter tal situação, os líderes do Pacto de Varsóvia convidaram Alexander Dubcek para discutir a “ameaçadora onda contra-revolucionária” que tomava conta da Tchecoslováquia.
Contudo, concordando com as mudanças que marcariam a chamada “Primavera de Praga”, o novo líder da nação tcheca se negou a participar dessa reunião. A recusa indicava o favor de Dubeck às transformações intensamente defendidas por diversas parcelas da população, principalmente os jovens. Em uma reunião posterior, autoridades tchecas e integrantes do Pacto de Varsóvia se encontraram para chegar a um acordo com relação ao incomodo político causado com todas aquelas transformações.
No entanto, a tentativa de diálogo não surtiu o efeito esperado. No dia 20 de agosto de 1968, uma tropa composta por 650 militares provenientes dos exércitos da União Soviética e outros aliados realizou a ocupação da capital da Tchecoslováquia. A tomada das ruas aconteceu ao mesmo tempo em que as autoridades russas destituíram Alexander Dubcek do seu posto político. Em resposta, a população passou a realizar uma série de protestos.
Alguns jovens pacifistas tentavam conversar com os soldados, requisitando a sua retirada ou deitando-se na frente dos imponentes tanques militares. Os mais radicais partiam para o confronto direto lançando coqueteis molotov contra os soldados estrangeiros. Com o fim dos conflitos, foram contabilizados setenta e dois mortos e setecentos e dois feridos. Mediante a frustração causada pela opressão militar, o estudante Jan Palach decidiu se matar atendo fogo em plena praça pública.
Em 17 de abril de 1969, o governo de Dubcek foi substituído por um novo líder alinhado aos interesses soviéticos. A mudança, apesar de dar fim às reformas, não foi capaz de aniquilar as novas tendências favoráveis a um socialismo mais aberto ou a reestruturação da democracia. No fim da década de 1980, a chegada de Mikhail Gorbatchev ao governo russo permitiu que a abertura política tcheca finalmente acontecesse.
Rainer Sousa

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