sexta-feira, 11 de agosto de 2023

O QUE É HIP HOP?

O termo Hip Hop, numa tradução literal, significa saltar e movimentar os quadris (to hip e to hop, em inglês). Este movimento foi criado em 1968, pelo DJ Afrika Bambaataa, para nomear os encontros dos DJs, MCs (mestre de cerimônia) com os dançarinos de break nas festas de rua no bairro do Bronx, em Nova York. Bambaataa pretendia com esse movimento encontrar uma forma eficiente e pacífica de expressar os sentimentos de revolta e de exclusão, diminuindo as brigas de gangues nos guetos e, conseqüentemente, o clima de violência que imperava nas periferias americanas (HERSCHMANN, 2000).



No final dos anos de 1960, Nova York passou por um rigoroso processo de renovação urbana. As autoridades executaram diversas obras como rodovias, parques e projetos residenciais, que modificaram significativamente o perfil da cidade.

Robert Moses, legendário planejador urbano, começou a implantação, em 1959, da Cross-Bronx-Expressway, um projeto que cortaria ao meio o centro da área mais habitada pela classe operária no Bronx. Embora pudesse ter modificado a estrada para evitar o desaparecimento de comunidades residenciais densamente povoadas por trabalhadores, na grande maioria, negros e hispânicos, ele elegeu um caminho que iria requerer a demolição de milhares de edifícios residenciais e comerciais. Ao nomear essas velhas casas de operários como “favelas”, a primeira tarefa de Moses foi promover um programa de liquidação dessas residências, forçando o deslocamento de 170 mil pessoas. A administração municipal, que acreditou ser a via expressa de Moses um sinal de progresso e modernização, não se viu à vontade para admitir a devastação que ocorreu.

Como muitos dos projetos públicos, a via Cross-Bronx-Expressway sustentou os interesses da classe alta contra os interesses dos menos favorecidos e intensificou o desenvolvimento da vasta desigualdade econômica e social que caracteriza, até hoje, Nova York. Aos moradores negros e hispânicos que foram deslocados para o South Bronx sobraram poucos recursos municipais, uma liderança fragmentada e um poder político limitado. Para os exilados no South Bronx restou construir alternativas criativas e agressivas para expressar seus descontentamentos com o poder público.

O novo grupo étnico que fez do South Bronx sua casa, construiu uma rede cultural própria, que pode se mostrar alegre e compreensiva, na era da alta tecnologia. Negros norte-americanos, jamaicanos, porto-riquenhos e outros povos do Caribe, reformularam suas identidades culturais e suas expressões em um espaço urbano hostil.

Além desta alavanca progressista e exterminadora, em 1968, os Estados Unidos passava por um período complicado, já que começava a sofrer grandes derrotas na Guerra do Vietnã e os movimentos pacifistas contra a guerra e pelo cumprimento da lei dos Direitos Civis se radicalizavam (HERSCHMANN, 2000).

Ainda o assassinato de Martin Luther King, naquele ano, provocou uma onda de conflitos inter-raciais em mais de 130 cidades norte-americanas. Bambaata, que convivia com outros jovens nas ruas do Bronx durante esse período de reivindicações e protestos, propôs que as gangues trocassem os conflitos reais pelo embate artístico, dando origem às emblemáticas batalhas de break.

Em 1970, Bambaataa se associou ao projeto Bronx River, uma divisão de uma gangue de rua, a Black Spades, o que começou a revolucionar a maneira de divulgar o estilo que vinha criando: passou a organizar festas de rua para a comunidade do Bronx.

Nascia o movimento social chamado de: Movimento Hip Hop.   Este Movimento calcado na indignação dos jovens negros e hispânicos é formado pelo rap: a música e a poesia, o break: a expressão corporal por meio da dança, o grafite: o lado visual, o desenho e a pintura e o DJ (HERSCHMANN, 2000).

Segundo Garcia (2008), o Hip Hop é uma experiência artística que boa parte da juventude pobre e negra passou a vivenciar e produzir. No Brasil, a cultura Hip Hop contribuiu na ampliação do imaginário social juvenil a partir da década de 1990. Período em que o rap passou a ser um veículo de comunicação e diálogo entre jovens de diferentes países, culturas, raças, classes, gêneros etc..

Desta forma, com caráter político e o objetivo de promover a conscientização coletiva desde sua origem, o Movimento Hip Hop fez das ruas palco de muita arte e denúncia.

Dançarinos de break elaboraram suas danças nas esquinas junto a blocos de concretos e placas, fazendo das ruas teatros provisórios para juventude. Artistas grafitaram murais e emblemas nos trens, nos caminhões e nos parques reivindicando seus territórios e inscrevendo sua outra e contida identidade na propriedade pública (HERSCHMANN, 2000, p. 12).

Nesta mesma perspectiva, Rocha, Domenich e Casseano (2001) acrescentam que os rappers se apoderaram dos microfones e os usaram como se a amplificação fosse uma fonte de vida para aqueles que não tinham o mínimo de condição existencial.

O Hip Hop deu voz às tensões e às contradições no cenário público urbano, tornando-o funcional para a juventude negra excluída. Uma revolução pacífica, onde a principal arma foi à disseminação da palavra, mesmo sendo difícil manter um discurso consciente, pacifista, anti-drogas, vivendo em situações de extrema violência, tráfico e de puro desespero existencial. (Rocha; Domenich;  Casseano, 2001, p. 25).

Para Herschmann (1997), jovens nascidos na desorganização das sociedades pós-industriais metropolitanas identificam-se com o universo do break, do grafite e do rap, fazendo dessa produção cultural não só mais uma mercadoria comercializável, mas também uma forma de reivindicação de espaço sociocultural.

Sob uma outra ótica, Martins (2006) argumenta que a participação do jovem em zonas subculturais toma lugar não somente como ruptura, mas também como algo que é importante para si mesmo, para os quais esses jovens são preparados para dar energia, concentração, tempo e imaginação.  Além disso, a existência das subculturas juvenis acaba assumindo um papel social amplo, o que dá margem para novas leituras que podem levar a transgressão de códigos comportamentais, quebras de leis, consciência de classe, enfim buscam abrir caminho para se pensar uma nova normalização da sociedade.

Assim, o Hip Hop é um movimento que marca a presença de jovens que se agregam pelo sentimento de exclusão, e que elaboram um estilo de vida e uma forma de expressão artística que constrói um ponto de vista particular e bastante crítico sobre a sociedade contemporânea (QUEIROZ, 2003).

Mano Brown (2004), vocalista do grupo de rap Racionais MC´s, acredita que o Movimento Hip Hop tem um compromisso que vai além da música. Neste contexto, ele alerta sobre a responsabilidade daqueles que atuam neste Movimento: “temos um compromisso não somente com a música, mas também com a questão social, inclusive a de não incentivar em público o uso de qualquer droga, seja ela a pinga ou a maconha. Uma vez em cima do palco, você é um líder e pode influenciar muita gente”.

Portanto, percebe-se que, no Brasil, o Hip Hop cresceu, saindo da periferia e conquistando bairros nobres, ampliando seu sentido, como cultura e como arte, vinculadas à contestação, ou seja, como uma manifestação de inconformismo, tendo em vista que seu papel principal deve ser educar e conscientizar seus integrantes, despertando um espírito crítico sobre a realidade vivenciada por cada um.

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