Paulo Leminski foi um poeta, escritor, tradutor e professor brasileiro. Fez uma poesia sem compromisso, destacou-se com “Catatau”, obra “maldita” marcada por exacerbado experimentalismo linguístico e narrativo.
Paulo Leminski Filho nasceu em Curitiba, Paraná, no dia 24 de agosto de 1944. Era filho de Paulo Leminski, militar de origem polonesa, e Áurea Pereira Mendes, de descendência africana.
Com 12 anos, Paulo ingressou no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, onde estudou latim, teologia, filosofia e literatura clássica.
Em 1963, abandonou o Mosteiro, e nesse mesmo ano foi para Belo Horizonte onde participou da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, quando conheceu Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos, criadores da Poesia Concreta.
Em 1964, publicou seu primeiro poema na revista “Invenção”, editada pelos concretistas. Nesse mesmo ano, assumiu o cargo de professor de História e Redação em cursinhos pré-vestibulares.
Publicava seus textos em revistas alternativas, antológicas do tempo marginal, como “Muda”, “Código” e “Qorpo Estranho”, segundo ele mesmo, publicações que consagraram grande parte da produção dos anos 70.
Catatau
Em 1975, Paulo Leminski iniciou sua trajetória de “escritor maldito” com a obra “Catatau”, um polêmico livro de prosa em que o experimentalismo atinge níveis pouco usuais, classificada pelo autor como mero romance ideia.
A obra, uma ágil alegoria tropicalista, apresenta o filósofo francês René Descartes vivendo no Brasil holandês de Maurício de Nassau, no século XVII, fumando maconha e comparando o pensamento europeu à natureza do povo tropical.
Quase incompreensível, o autor falava em “essências puando como um geroclips” ou “captainhas recém-recuptas”, gerando críticas que oscilavam entre “pretencioso” e “um talento passível de recuperação”.
Com a recepção dada a Catatau, que levou oito anos para concluir, Leminski jurou que jamais voltaria a escrever prosa e, em 1980 publicou dois instigantes livros de poesia: “Polonaises” e “80 Poemas”. Lançados com diferença de poucos meses e ambos herdeiros, na forma, dos melhores momentos da “geração mimeógrafo”.
Casado com a também poetisa Alice Ruiz, com duas filhas, passou a ganhar a vida em Curituba como redator de publicidade, depois de ter sido jornalista e professor de Português e História.
Características
Paulo Leminski tornou-se um dos mais destacados poetas brasileiros da segunda metade do século XX. Inventou seu próprio jeito de escrever poesias, fazendo trocadilhos ou brincando com ditados populares:
“sorte no jogo / azar no amor / de que me serve / sorte no amor / se o amor é um jogo / e o jogo não é meu forte, / meu amor?”.
Leminski era fascinado pela cultura japonesa e pelo zen-budismo, era faixa preta de caratê. Escreveu a biografia de Matsuo Bashô, e dentro do território livre da poesia marginal escreveu poemas à moda de um grafiti, com sabor de haicai.
Leminsk escreveu também letras de músicas em parcerias com Caetano Veloso, Itamar Assumpção e o grupo A Cor do Som.
Exerceu intensa atividade como crítico literário e tradutor, vertendo para o português as obras de James Joyce, Alfred Jarry, Samuel Beckett e Yukio Mishima. Viveu durante 20 anos com a poetisa Alice Ruiz, que organizou sua obra.
Morte
Paulo Leminski faleceu em Curitiba, Paraná, no dia 7 de junho de 1989, em consequência do agravamento de uma cirrose hepática, que o acompanhou por vários anos.
Poemas de Paulo Leminski
Dor EleganteUm homem com uma dorÉ muito mais eleganteCaminha assim de ladoCom se chegando atrasadoChegasse mais adianteCarrega o peso da dorComo se portasse medalhasUma coroa, um milhão de dólaresOu coisa que os valhaÓpios, édens, analgésicosNão me toquem nesse dorEla é tudo o que me sobraSofrer vai ser a minha última obra
Amor
Amor, então,também, acaba?Não, que eu saiba.O que eu seié que se transformanuma matéria-primaque a vida se encarregade transformar em raiva.Ou em rima.
Marginal
Marginal é quem escreve à margem,deixando branca a páginapara que a paisagem passee deixe tudo claro à sua passagem.Marginal, escrever na entrelinha,sem nunca saber direitoquem veio primeiro,o ovo ou a galinha.
Obras de Paulo Leminski
- Catatau (1976)
- 80 Poemas (1980)
- Caprichos e Relaxos (1983)
- Agora é Que São Elas (1984)
- Anseios Crípticos (1986)
- Distraídos Venceremos (1987)
- Guerra Dentro da Gente (1988)
- La Vie Em Close (1991)
- Metamorfose (1994)
- O Ex-Estranho (1996)
Nenhum comentário:
Postar um comentário