O século XX ficou marcado como um século de catástrofes e morticínios. As duas guerras mundiais levaram cidades inteiras à destruição e milhões de pessoas à morte. Nesse ínterim, alguns regimes de governo que se pautavam por orientações políticas ideológicas nacionalistas, eugenistas e racistas levaram a cabo o projeto de extermínio sistemático de povos que julgavam ser inferiores ou que divergiam de seu projeto de expansão territorial, entre outras razões.
Os motivos eram inúmeros. O caso do holocausto dos judeus, isto é, o genocídio dos judeus pelos nazistas, é um exemplo. O holodomor, isto é, o genocídio de ucranianos pelos soviéticos, é outro. Porém, antes desses dois, houve o genocídio dos armênios perpetrado pelo Império Turco-Otomano.
O Império Turco-Otomano controlava uma vasta região, que ia do Cáucaso, passando pelos Bálcãs, Anatólia, Península Arábica e por grande parte do Oriente Médio. A Armênia, que havia sido conquistada pelos turcos, tornou-se súdita dos sultões. Durante a Primeira Guerra Mundial, que teve início em 1914, os interesses do Império Turco-Otomano iam contra os de vários povos e nações envolvidos na guerra, inclusive contra tribos árabes muçulmanas.
Boa parte dos combatentes armênios, bem como da liderança política e intelectual desse povo, aliou-se a outros povos contra os turcos. Alguns combatentes armênios lutaram junto aos russos (inimigos históricos do Império Turco-Otomano). As autoridades turcas alegaram tal fator como alta traição e usaram esse subterfúgio para instituir uma política sistemática de morte contra a população da Armênia.
O programa genocida foi autorizado pelo sultão Abdul-Hamid II e organizado pelo primeiro-ministro turco, Mehmet Talaat, o ministro da guerra, Ismail Enver, e o ministro da Marinha, Ahmed Jemal. A estratégia consistia em: 1) Convocar os soldados armênios para a guerra. Isso implicava deixar as cidades e vilas desprotegidas, ao passo que, no front de batalha, os armênios apenas serviam para cavar trincheiras, sendo logo exterminados pelos soldados turcos. 2) remover a população das cidades, provocando enormes ondas migratórias em direção a campos de concentração no deserto de Deir al-Zor. A justificativa dada para a evacuação dos armênios era uma suposta ofensiva da Tríplice Entente.
Na medida em que a população, sobretudo composta de mulheres, anciãos e crianças, vagava em direção aos campos no deserto, alguns já morriam no caminho de inanição. As mulheres sofriam abusos sexuais e eram vendidas como escravas. Como destaca Yuri Vasconcelos: “'As jovens armênias eram vendidas como escravas e as crianças eram encaixotadas vivas e atiradas no Mar Negro', relata Nubar Kerimian, no livro Massacres de Armênios. 'Os padres também eram queimados amarrados em cruzes, como Jesus, e os fetos, arrancados dos ventres das mães, jogados para o ar e aparados na espada.'” [1].
Esse tipo de atrocidade tornou-se intenso entre os anos de 1915 e 1918. Com o fim da guerra, a Armênia foi anexada à URSS. Entretanto, a população de armênios que conseguiu voltar para regiões centrais da Turquia passou a ser novamente alvo de ataques dos turcos, tal como enfatiza Yuri Vasconcelos:
“Desta vez, a violência foi dirigida a armênios que haviam retornado às suas casas na Anatólia Oriental após o final da Primeira Guerra Mundial. As execuções, torturas, expulsões e maus-tratos foram arquitetados e promovidos pelo governo nacionalista de Mustafá Kemal Atatürk, considerado o pai da Turquia moderna. Em 1923, a população armênia na Turquia estava restrita à comunidade existente em Constantinopla.” [2].
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