domingo, 29 de março de 2020

O GOVERNO DE CAFÉ FILHO

O suicídio de Vargas fez com que a breve presença de Café Filho na presidência fosse marcada por uma grande instabilidade. Para acalmar as tensões dessa época, o novo presidente saiu aos meios de comunicação prometendo assumir os compromissos firmados por seu antecessor. Entretanto, a pressão política exercida pelos setores de oposição fez com que Café Filho permitisse a entrada de políticos udenistas em seu novo gabinete ministerial.

Os grandes problemas econômicos da época (a inflação e o déficit da balança comercial) foram combatidos através da limitação do crédito, a redução das despesas públicas, a criação de uma taxa única de energia elétrica e a retenção automática do imposto de renda sobre os salários. Além disso, para buscar apoio junto aos parlamentares na aprovação de tais medidas, Café Filho declarou que seu governo tinha caráter provisório e não tinha maiores pretensões políticas.

A prova desse caráter transitório foi percebida quando o presidente negou a sugestão de adiamento das eleições estaduais, propostas por políticos que temiam uma vitória massiva do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) por conta da comoção causada pela morte de Getúlio Vargas. O temor dos conservadores acabou não tendo reflexo nas urnas, onde os partidos getulistas tiveram um pequeno avanço. Logo em seguida, as disputas seriam reavivadas com as eleições para presidente.

Já em 1954, Juscelino Kubitschek lançou sua candidatura pelo PSD. Logo em seguida, os militares ofereceram um documento ao presidente sugerindo que as eleições fossem organizadas em torno de um único candidato aprovado pelas forças militares. A proposta – supostamente favorável aos udenistas – foi combatida pelo PTB, que compôs aliança com JK ao colocar João Goulart como vice-presidente da chapa. Com isso, a mobilização sugerida pelos militares não teve prosseguimento.

Dessa forma, a UDN enfrentou sérias dificuldades para escolher um nome que fizesse frente à chapa PTB/PSD. A escolha final da oposição acabou sendo fechada nos nomes do ex-tenetista Juarez Távora e Milton Campos. Correndo por fora, ainda havia a candidatura de Ademar de Barros, que contava com seu prestígio junto ao eleitorado paulista. De fato, as disputas naquelas eleições ficaram polarizadas entre Juscelino e Juarez Távora.

No período de campanha eleitoral, JK buscava o apoio da população com um discurso focado para o desenvolvimentismo e a imediata modernização da indústria brasileira. Entre os udenistas havia uma grande preocupação em se defender a moralização do cenário político nacional e, graças o tom incendiário de Carlos Lacerda, levantavam suspeitas sobre as reais intenções de Juscelino Kubitschek. Ainda assim, era visível que a chapa JK/Jango tinha maiores condições de vencer o pleito.

Com isso, alguns udenistas cogitaram a possibilidade de apoiar um golpe de Estado conduzido pelas Forças Armadas. No final da eleição, Juscelino Kubitschek venceu as eleições com uma pequena diferença de 6% em relação à Juarez Távora. Para tentar desarticular a vitória de JK, Carlos Lacerda ainda “plantou” uma carta que provaria a intenção de Jango em estabelecer um regime sindicalista através do oferecimento de armas ao operariado.

Em novembro de 1955, o presidente Café Filho teve que se afastar do cargo para tratar de problemas cardíacos. No seu lugar, Carlos Luz, presidente da Câmara, assumiu o posto presidencial. Entre seus primeiros atos, Carlos indicou o general Álvaro Fiúza de Castro para assumir o Ministério da Guerra no lugar de Henrique Lott. Tal medida ampliou a possibilidade de um golpe militar, já que o novo ministro era visivelmente contra a chegada de JK à presidência.

No entanto, antes de entregar seu cargo, o general Lott foi convencido por outros militares legalistas para conduzir um golpe contra o presidente Carlos Luz. Após o anúncio do golpe, Café Filho se recuperou subitamente e manifestou interesse em reassumir o posto presidencial. Entretanto, a cura repentina despertou a desconfiança de Lott, que preferiu entregar o mandato para Nereu Ramos, presidente do Senado. Assim, a transmissão do poder para Juscelino e Jango foi garantida.

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