Augusto dos Anjos foi um poeta brasileiro, considerado um dos poetas mais críticos de sua época. Foi identificado como o mais importante poeta do pré-modernismo, embora revele em sua poesia, raízes do simbolismo, retratando o gosto pela morte, a angústia e o uso de metáforas.
Declarou-se "Cantor da poesia de tudo que é morto". Durante muito tempo foi ignorado pela crítica, que julgou seu vocabulário mórbido e vulgar. Sua obra poética, está resumida em um único livro "EU", publicado em 1912, e reeditado com o nome "Eu e Outros Poemas".
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, conhecido como Augusto dos Anjos, nasceu no engenho "Pau d'Arco", na Paraíba, no dia 22 de abril de 1884. Filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos.
Recebeu do pai, formado em Direito, as primeiras instruções. No ano de 1900, ingressou no Liceu Paraibano e nessa época compôs seu primeiro soneto, "Saudade".
Augusto dos Anjos estudou na Faculdade de Direito do Recife entre 1903 e 1907. Formado em Direito, retornou para João Pessoa, capital da Paraíba, onde passou a lecionar Literatura Brasileira, em aulas particulares.
Em 1908 foi nomeado para o cargo de professor do Liceu Paraibano, mas em 1910, foi afastado da função por se desentender com o governador. Nesse mesmo ano casou-se com Ester Fialho e mudou-se para o Rio de Janeiro, depois que sua família vendeu o engenho Pau d'Arco.
No Rio de Janeiro, Augusto dos Anjos lecionou literatura em diversos cursinhos. Lecionou Geografia na Escola Normal, depois no Instituto de Educação e no Ginásio Nacional. Em 1911 foi nomeado professor de Geografia, no Colégio Pedro II. Durante esse período, publicou vários poemas em jornais e periódicos.
Sua Única Obra: “Eu”
Em 1912, Augusto dos Anjos publicou seu único livro "EU", com 58 poemas, que chocou pela agressividade do vocabulário e por sua obsessão pela morte.
Integram à sua linguagem termos considerados antipoéticos, como "podridão da carne”, “cadáveres fétidos” e “vermes famintos". Como também por sua retórica delirante, por vezes criativa, por vezes absurda, como no poema:
Psicologia de um Vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro da escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Monstro da escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – esse operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Com o tempo, a obra de Augusto dos Anjos foi uma das mais lidas no país e, convertida em um manual de catecismo pessimista para todos os azarados:
Versos Íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera
Foi tua companheira inseparável!
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
O beijo amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Pré-modernista
Embora contemporâneo da geração simbolista, Augusto dos Anjos permaneceu à margem da escola. Sua obra apresenta na verdade uma experiência única na literatura universal: a união do Simbolismo com o cientificismo naturalista.
Por isso, dado o caráter sincrético de sua poesia, está situado entre o grupo pré-modernista. Sua poesia antilírica, abriu a discussão sobre os conceitos de “boa poesia”, mas preparou o terreno para a grande renovação modernista. Em 1919, sua única obra foi reeditada como: “Eu e Outras Poesias”.
Em 1913, Augusto dos Anjos mudou-se para Leopoldina, Minas Gerais, onde assumiu a direção do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira. Continuou também a dar aulas particulares. Em 1914, depois de uma longa gripe, Augusto dos Anjos foi acometido de uma pneumonia.
Augusto dos Anjos faleceu em Leopoldina, Minas Gerais, no dia 12 de novembro de 1914.
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