O Massacre de Sharpeville foi divisor de águas na história do apartheid na África do Sul. Entre outras coisas, o terrível fato ocorrido 59 anos atrás acirrou demais os ânimos no país. Mais importante, abriu os olhos da comunidade internacional para a barbárie do regime da minoria branca contra a maioria negra.
Antes de falar do tétrico massacre, bom contextualizar a situação no país à época. Havia um grande partido opositor ao regime e representante da maioria negra, o Congresso Nacional Africano (CNA), aliás, o partido do então jovem Nelson Mandela.
No fim de 1959, o CNA anunciou, em conferência anual, que 1960 seria o ano da luta contra o passe. O famigerado passe – ou caderneta – existia há muito tempo. Antes, controlava os escravos. Depois, com a instauração do apartheid, passou a ser instrumento do governo contra os negros.
O documento continha foto, dados pessoais, números e registros profissionais, além de anotações sobre imposto de renda e ficha criminal. Os negros tinham que carregar os passes com eles sempre. E apresentar às autoridades sempre que solicitados.
O CNA, portanto, queria marcar o dia 31 de março como uma demonstração nacional contra as leis do passe. No entanto, o Congresso Pan-Africanista (PAC), uma dissidência do CNA fundada no final de 1959, sob liderança de Robert Subukwe, resolveu se antecipar e organizou um protesto pacífico para o dia 21.
Subukwe foi claro: em manifestação não-violenta, os africanos deveriam deixar os passes em casa e comparecer às delegacias de polícia para se entregarem e serem presos. A ideia era provocar uma pane no sistema político e econômico. As prisões superlotadas e a falta de mão de obra causariam colapso no país.
Então, no dia 21, uma massa de gente aderiu ao protesto. Em Sharpeville, próximo à Johanesburgo, uma multidão de 5 a 7 mil pessoas (há muita controvérsia na estimativa até hoje) se reuniu em frente ao distrito policial, para desespero deos20 soldados presentes.
Logo, um reforço de 130 homens foi chamado, com escolta de tanques, jatos e monomotores. O objetivo era dispersar a aglomeração, que protestava pacificamente. Então, de repente, por volta das 13 horas, a tentativa de detenção de um dos manifestantes gerou um caos na entrada da delegacia.
Sem aviso e sequer organização, a polícia abriu fogo contra a turba. Corpos foram caindo no chão, enquanto a massa se dispersava para onde pudesse. Os tiros continuaram, covardes, atingindo os negros pelas costas. Ao final dos dois minutos de disparos, 69 mortos, 180 feridos.
“Meu carro foi atingido por uma pedra. Se eles fazem isso, precisam aprender a lição da forma mais dura”, afirmou o cínico e sádico comandante da polícia, G. D. Pienaar. Mais cínico (e mentiroso), o primeiro-ministro Verwoerd disse que os manifestantes “atiraram primeiro”. Nenhuma arma foi encontrada nas mãos da multidão.
Três dias depois do massacre, o governo baniu qualquer aglomeração pública em toda a África do Sul. Em 8 de abril, o CNA e o PAC foram banidos e um estado de emergência foi declarado. Em setembro, 224 pessoas acionaram o governo, que fez uso do “Indemnity Act” para se defender de Sharpeville. Nenhum policial foi condenado ou preso.
Por causa do Massacre de Sharpeville, Nelson Mandela abandonou a política de não-violência que vinha adotando contra o regime do apartheid. Após algumas ações militares, seria preso em 12 de junho de 1964.
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