domingo, 28 de julho de 2019

O LEVANTE DE VARSÓVIA

Em 19 de abril de 1943, reunindo comunistas, sionistas e socialistas judeus, começava no Gueto de Varsóvia a primeira revolta armada desencadeada por civis no interior da Europa ocupada pelos nazistas.

Para grande parte dos milhares de judeus acuados pelo regime de Hitler no Gueto de Varsóvia estava claro que não tinha chances de vencer uma rebelião contra as fortes tropas de elite da SS. Mas, a falta de perspectiva, ao saber que o gueto seria posto abaixo, não lhes deixou outra alternativa.
Mais de 400 mil pessoas viviam encurraladas numa área de quatro quilômetros quadrados num bairro em Varsóvia. Cercadas por altos muros, sujeitas a inúmeras proibições e controles, recebiam uma ração mínima de comida. Por imposição da SS, um conselho de moradores, responsável pela ordem e limpeza, era também obrigado a listar os nomes dos próximos a serem removidos para o campo de extermínio.
Entre julho e setembro de 1942, mais de 300 mil judeus foram transportados de trem do gueto para a morte certa no campo de Treblinka. A resistência foi formada a partir do desespero. Um dos sobreviventes conta: "A maioria foi a favor da rebelião. As pessoas achavam melhor morrer com uma arma na mão do que sem ela. Pode-se chamar este tipo de resistência de rebelião? Era uma luta para não sermos transportados ao matadouro, uma luta contra a morte."
No final de 1942, houve uma pequena pausa nas deportações. Cerca de 70 mil pessoas ainda viviam no gueto, na maioria mão de obra compulsória para a indústria que fornecia equipagem para o Exército alemão. Esses operários formaram o núcleo da resistência.
Comunistas, sionistas e socialistas judeus juntaram-se numa frente contra as deportações, dispostos ao combate armado, se necessário. Em dezembro de 1942, começaram a desenvolver um sistema de esconderijos para os procurados. Quartos eram divididos e suas entradas tapadas com decorações. Muitas vezes, sua existência era revelada pelo choro de crianças.
Numa visita ao gueto em janeiro de 1943, Heinrich Himmler, o comandante da SS, a tropa de elite nazista, ordenou que a população do bairro fosse diminuída com a deportação para os campos de extermínio. Essa ordem despertou a resistência: cerca de 6 mil chegaram a ser retirados, mas paralelamente os trabalhadores haviam conseguido armas do exterior e começaram a enfrentar as tropas de Hitler.
Em fevereiro, Himmler ordenou o fim do Gueto de Varsóvia. O oficial Jürgen Stroop foi encarregado de destruir todo o bairro. Ao invadir o gueto no domingo 19 de abril seu contingente de cerca de 3 mil homens, a maioria da SS, foi confrontado com a resistência dos 1.500 moradores ainda restantes. Apesar de saberem da impossibilidade de uma vitória, eles continuaram lutando com as armas de que dispunham.
Ação durou até 16 de maio
Os sobreviventes relatariam mais tarde sobre o cheiro de cadáveres nas ruas, das bombas incendiárias e mulheres saltando dos andares superiores dos prédios com crianças nos braços. Somente em 8 de maio os soldados alemães conseguiram cercar os rebeldes. Para não serem mortos pelas bombas de gás jogadas pelos alemães, muitos optaram pelo suicídio.
A ação nazista foi encerrada às 20h15 de 16 de maio, com a explosão da sinagoga do gueto, que se encontrava em ruínas. Mais de 56 mil pessoas haviam morrido na rebelião que entrou para a história judaica como a primeira resistência civil contra a crueldade fascista.
Muitos anos mais tarde, em dezembro de 1970, Willy Brandt, o primeiro chanceler federal social-democrata da República Federal da Alemanha, se ajoelharia em Varsóvia diante do monumento aos mortos do levante.
O gesto e o silêncio que se seguiu – cortado apenas pela chuva de flashes fotográficos – repercutiram no mundo como símbolo de contrição, pedido de perdão e tentativa de reconciliação por parte da Alemanha.

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